sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Oração: Uma vida com atitude!

“Tenho tanto que fazer que não consigo prosseguir sem gastar três horas diárias em oração”. Lutero[1], ao fazer esta afirmação, manifestou o quanto o ministério cristão depende da profundidade da relação do ministro com Deus. A oração precisa ser uma valorosa disciplina desenvolvida por todos aqueles que almejam aproximar as suas vidas a do Criador.

Segundo Teófano[2], “Orar é trazer a mente para dentro do coração e lá permanecer diante da Face do Senhor, sempre presente, que tudo vê e está no teu íntimo”. É através da oração que o Senhor toca o coração daquele que se prostra e se permite ser tocado, ainda que de maneira incompleta por causa da natureza humana. O ministro, ao desenvolver a prática da oração é inundado por uma maravilhosa característica inerente a Deus, a criatividade. O Deus Criador impele o homem criatura a O adorar criando.

Nouwen[3] afirma que “através da disciplina da oração, os líderes cristãos devem aprender a ouvir vez após vez a voz do amor, e a encontrar lá a sabedoria e a coragem para tratar quaisquer questões que lhes aparecem.” A maturidade espiritual começa a se desenvolver cada vez mais motivada pela transformação que Cristo provoca na vida do ministro e não pelo conhecimento intelectual nem pelas suas inúmeras experiências religiosas.[4] O cotidiano e seus imprevistos se transformam em um meio para que o nome de Cristo seja glorificado e adorado pela ação do ministro cristão que ora e vai, gradativamente alcançando sua maturidade espiritual.

Para muitos de nós a oração é o aspecto da vida cristã em que sempre nos encontramos em falta. Mas, mesmo assim, o cultivo da oração apenas como uma amizade com Deus, pelo simples prazer de estar em sua presença e gozar sua companhia, é uma experiência um tanto rara para muitos cristãos, simplesmente porque não sabemos o que significa amizade. (BARBOSA, 2009, p. 19)

Barbosa, acima citado, lembra que uma falta muito comum na vida cristã atual é a disciplina da oração. Cada vez mais há menos tempo para se permitir falar com Deus, e ainda menos para tentar ouvi-lo. Orar e buscar uma amizade com Deus é algo cada vez mais inexistente na vida de muitos cristãos. É preciso entender que amizade só acontece quando se permite gastar tempo de qualidade com um alguém. Só se pode ser amigo de Cristo quando a cada momento nEle há a busca de uma relação de confiança, cumplicidade, dependência e troca.

Segundo Foster[5], a experiência cotidiana dos que andam com Deus é receber conceitos daquilo que pode existir. A oração de quem deseja investir tempo na presença de Deus é uma verdadeira forma de vida. Ela impele o homem para a fronteira da vida espiritual e é a principal via usada por Deus para transformar e possibilitar que o ministro enxergue as coisa do ponto de vista de dEle. Orar é sair da passividade da vida e agir para transformar o mundo e mudar o rumo da história.

Para que a oração seja eficaz, o ministro cristão precisa estar sintonizado com a vontade de Deus para a sua vida. Ele deve começar sua oração intercessora aquietando a sua atividade física e ouvindo Deus. Então, progressivamente, questões maiores e mais complexas vão tomando foco ao mesmo tempo em que o silêncio se faz presente em observância ao que Deus pode estar trazendo ao coração do que ora.

Muitas vezes nos evangelhos vemos Jesus orando a noite toda. No deserto, no topo da montanha, no Getsêmani. Embora a sua divindade possuísse a mente de Deus, sua humanidade continuamente buscava o Pai em períodos de oração que seguiam noite afora. (CARD, 2008, p. 96)

Cristo orava e de forma muito intensa buscava o pai em todos os momentos. Embora possuísse a natureza divina, seu ministério se tornou verdadeiramente uma inspiração do que é ser criativo para todos os que almejam seguir os passos do Mestre. Barbosa[6] nos ensina que devemos nos inspirar no exemplo de Jesus e imitá-lo para romper com os apelos que nos desviam da vontade divina. Só assim o ministro que busca uma vida de oração pode ansiar por ter uma mente e o coração mais puros e abertos a vontade de Deus.

Uma grande dificuldade quanto à disciplina da oração enquanto algo que traz à vida do ministro os benefícios da criatividade é com relação aos períodos onde a prosperidade se faz presente. Segundo Barbosa[7], “sempre que os cristãos vivem momentos de paz, tranqüilidade e prosperidade, a cruz é facilmente trocada por outros símbolos de fé”. A humanidade tem tido uma visão equivocada do papel de Deus na história. O Criador deixa de ser o Senhor dos senhores e passa a ser alguém que é chamado apenas quando as dificuldades são grandes e ameaçam os planos da criatura. O homem, que foi criado a imagem e semelhança de Deus, passa a ser aquele que só busca quem o criou em momentos de grande necessidade e aflição.

Porém, a igreja atingiu a sua coerência e maturidade espiritual em meio a momentos onde os sofrimentos, as dificuldades e as tribulações proporcionavam ao cristão a consciência de que ele dependia de Deus. E, em momentos de oração é que o ministro consegue melhor discernir isso podendo ver o poder de Deus se aperfeiçoando na fraqueza humana e assim possibilitando o desencadeamento de momentos de criatividade para a glória de Deus.

A oração passa a ser o mecanismo que tem o papel de possibilitar ao homem a oportunidade de se apresentar perante Deus e buscar a intimidade necessária para que o ministério criativo provoque uma transformação na história humana.


[1] LUTERO, Martinho. In. FOSTER, 2007, p. 68.

[2] TEÓFANO. In. FOSTER, 2007, p. 49.

[3] NOUWEN, 2002, p. 24.

[4] BARBOSA, Ricardo. O Caminho do Coração. 6ª Ed. Curitiba: Encontro Publicações, 2009. p. 105.

[5] FOSTER, 2007, p. 67.

[6] BARBOSA, 2009, p. 106.

[7] BARBOSA, 2009, p. 118.

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