domingo, 22 de agosto de 2010

O GRANDE EQUÍVOCO

Certa vez, um teólogo de Princeton comentou que não se importava de dizer os credos, contanto que os pudesse cantar. O que ele quis dizer é que, se ele pudesse transformar os credos em uma obra de arte, achava que não precisaria se preocupar com o conteúdo. Contudo, tal atitude demonstra uma teologia e uma estética simplórias. (SCHAEFFER, 2010, p. 60)

A história acima relatada por Schaeffer revela algo que é comum no cotidiano de muitas comunidades cristãs. A preocupação com a forma está sendo priorizada em detrimento da preocupação com o conteúdo. Se o formato for conveniente e atender as necessidades específicas do momento, o conteúdo fica restrito ao segundo plano. Mesmo quando a mensagem for teologicamente consistente e necessária, a reflexão acerca da mesma fica desvalorizada, mesmo que de forma não intencional, mediante a exuberância do formato apresentado durante o momento litúrgico.

Quando se fala em criatividade, muitas vezes se pensa que a mesma pode ser obtida por meios que envolvem as capacidades propriamente humanas. Através de uma série de estímulos a pessoa vai desenvolvendo uma maneira ímpar e atraente de desenvolver seus projetos. Em outras palavras, quanto mais o indivíduo se esforça e busca se capacitar, mais ele se vê apto a exercer com originalidade e criatividade suas funções e alcançar seus objetivos.

Nouwen[1] afirma que ministério e espiritualidade nunca podem ser dissociados já que é uma questão ligada à vida espiritual do ministro aliada a prática cotidiana. Ou seja, não há ministério bem sucedido e criativo se a vida espiritual do ministro não é sadia. Não há criatividade real no ministério se não há intimidade com Deus. É possível que uma das causas das frustrações e desapontamentos ministeriais de muitos cristãos seja causada pela crescente separação entre o profissionalismo e a espiritualidade, o que acaba muitas vezes levando a uma busca da valorização do primeiro e detrimento do segundo que é absorvido pela correria do cotidiano.

Uma das causas principais para toda frustração, dor e desapontamento na vida de muitos ministros cristãos tem sua raiz na crescente separação entre profissionalismo e espiritualidade. (NOUWEN, 2008, p. 21)

Nouwen[2] afirma que “muitos destes homens e mulheres têm doado tanto de si mesmos e suas atividades pastorais cotidianas, que muitas vezes demandam muito de si, que acabam por se sentir vazios, exaustos, cansados e quase sempre desapontados.” É o cotidiano e o excesso de dedicação que acaba levando o ministro a um profissionalismo com pouca observância do quanto é necessário e a disciplina para desenvolver uma espiritualidade sadia. Verdadeiros apaixonados pela obra ministerial que são, pela urgência das tarefas do cotidiano, empurrados para um verdadeiro “beco sem saída”, já que no ministério cristão o segredo repousa no fato de se deixar ser dependente da presença de Deus em todos os aspectos da vida.

Não é exagero dizer que, enquanto as igrejas se tornam cada vez mais vazias, ano após ano, novas formas de ministério estão sendo procuradas na periferia do cristianismo, e aquele ensino, pregação, cuidado, planejamento e celebração estão surgindo de novas formas nas catacumbas de nossas modernas cidades. (NOUWEN, 2008, p. 131)

Para Nouwen[3], seguindo essa linha de raciocínio onde a espiritualidade, em nome da criatividade, é ofuscada pelo profissionalismo, o ministro proporciona a oportunidade para que o povo se afaste da mensagem do cristianismo e não perceba que o evangelho não está sendo transmitido. Assim, há um aumento da resistência em ouvir a mensagem eterna em um momento onde a pregação deveria ter o papel de auxiliar a luta constante para que o cristão se torne realmente, a cada dia, um seguidor de Cristo.


[1] NOUWEN, Henri. Ministério Criativo. Brasília: Editora Palavra, 2008. p.25.

[2] NOUWEN, 2008, p. 22.

[3] NOUWEN, 2008, p. 51.

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